Segredo das Musicas na Radio

O Dono da JovemPan (Tutinha) abre o jogo.

 

Veja essa Entrevista Extremamente sincera e reveladora sobre o Tutinha (e entenda a fama de Chefe Durão que ele tem) e o como funciona as Regras sobre Musicas nas radios.

Entrevista com TUTINHA (Playboy 2006) - por Adriana Negreiros

O dono do Pânico é um homem de difícil trato. E uma máquina de fazer dinheiro. Proprietário da rádio Jovem Pan, de um portal de internet, de uma empresa de telefonia e de vários outros negócios (incluindo uma pequena gravadora, a Bacana Records, e a Rádio Daslu, que toca na loja de madames), Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, ou simplesmente Tutinha Amaral, é um sujeito durão, insone e hipocondríaco. Do tipo que vai à farmácia e pergunta quais as novidades do mercado.

Ou que, ao deparar com uma funcionária que aparente estar tranqüila, solicita a ela que elabore, em meia hora, um relatório com todas as suas atividades e resultados obtidos. Não é à toa que ele inspirou um ex-funcionário, o comediante Felipe Xavier, a criar o Dr. Pimpolho, personagem que encarna o estereótipo do chefe irritado, mal-educado e explorador - apresentado diariamente na Rádio Mix, concorrente de Tutinha.

No dia da entrevista, contou que chegara ao escritório às 5 da manhã. Na falta do que fazer, jogou paciência. Agitado, bebeu café, brincou com o celular e despachou, sem muita conversa, uma funcionária que insistia em interromper a entrevista.
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PLAYBOY> Você é um dos homens mais temidos da indústria fonográfica do Brasil. Por quê?
TUTINHA> Sou o mais temido, lógico. Sou assim mesmo. Se não tocar na minha rádio, a Jovem Pan, o artista não estoura. E não sou bonzinho. Se a música é ruim, digo para o artista: "Não vou tocar, seu disco é uma porcaria. Tchau e não me amola".

PLAYBOY> Muita gente dizque você é jabazeiro [que cobra jabá].
TUTINHA> Me chamem do que quiser. Na minha rádio tem nota fiscal, tô pouco me danando. O cara para entrar no Fantástico também paga. Jabá é quando você faz ilegalmente na empresa. O que eu faço são acordos comerciais.

PLAYBOY> Que tipo de acordo?
TUTINHA> Por exemplo: hoje chegam 30 artistas novos por dia na rádio. Por que eu vou tocar? Eu seleciono dez, mas não tenho espaço para tocar os dez. Aí eu vou nas gravadoras e para aquela que me dá alguma vantagem eu dou preferência.

PLAYBOY> Que vantagem?
TUTINHA> Se você tem um produto novo, você paga pra lançar. Era isso o que eu fazia. Eu tocava, mas queria alguma coisa. Promoção, dinheiro. Ah, bota aí 100 mil reais de anúncio na rádio. Me dá um carro pra sortear para o ouvinte. Mas hoje não tem mais isso. As gravadoras não têm mais dinheiro. O que pode existir é o empresário fazer acordo. Ah, toca aí meu artista e eu te dou três shows. Ou uma porcentagem da venda dos discos.

PLAYBOY> Isso não é jabá?
TUTINHA> Não. Na Jovem Pan nunca teve jabá. Antigamente as rádios tinham. Quando eu comecei a trabalhar, até me assustava. A Rádio Record ficava junto com a Jovem Pan. Na época, chegava o cara da gravadora e dava dinheiro, walkman, relógio para o radialista. Quando eu entrei, eu pegava essas coisas para a Jovem Pan. Nas outras rádios, os donos não estavam. Eu não tinha interesse em roubar a Jovem Pan. Queria fazer negócio. Antes o rádio era muito amador. Então a gravadora dava uma coisa pro cara, dava mulher.

PLAYBOY> Mulher?
TUTINHA> É, mandava o cara pro puteiro. As gravadoras faziam qualquer coisa pra tocar a música.

PLAYBOY> Alguma artista já tentou fazer sexo com você em troca de tocar a música na rádio?
TUTINHA> Já, mas não vou falar quem foi. Eu estava na minha sala, entrou uma mulher com um vestido, tirou o vestido e disse: "Se você tocar minha música..."

PLAYBOY> E a mulher estourou?
TUTINHA> Não, porque não tocou na Jovem Pan. E eu não a comi.

PLAYBOY> Era bonita?
TUTINHA> Meia-boca. Eu até falei: "Você tem um belo corpo, mas sua música é muito ruim".


PLAYBOY> As gravadoras já te ofereceram absurdos?
TUTINHA > Ah, tudo o que você pode imaginar.

PLAYBOY> Um harém?
TUTINHA> Não, isso não. O que eles faziam era me levar para conhecer os artistas. Mas eu não me vendia por isso. Eles lançavam o novo disco da Gloria Estefan e me convidavam assim: primeira classe, carro com motorista, backstage do show em Amsterdã, junto com o presidente da Sony. Depois um jantar fechado com a Gloria Estefan. E o cara achava que eu tinha que tocar porque tinha tido essa moleza, né?

PLAYBOY> E tocava?
TUTINHA> Às vezes sim, às vezes não. Mas eu fiz muitas viagens assim. Conheci quase tudo. Fiz coisas incríveis. Por exemplo, fui ver o Michael Jackson, sentei na mesa com ele.

PLAYBOY> Você bateu papo com o Michael Jackson?
TUTINHA> Ah, aquela coisa de hello, né? Tinha 8 mil negos lá. Era "my name's Michael, my name's Tuta". E ele me deu aquela mão gigante, branca! Eu tinha muita mordomia. Era assim: "Quer ver o U2? Vamos. E depois a gente vai jantar com o U2". Sempre eles fazem isso. Depois do show, fecham um andar do hotel, convidam rádios de vários lugares do mundo e fazem um lobby. O artista vai lá, fala oi pra todo mundo, a gravadora distribui brindes. As gravadoras tinham dinheiro e eu acho isso bacana, profissional.

PLAYBOY> Como eram essas festas com os artistas?
TUTINHA> Teve uma festa do Julio Iglesias na casa dele, na República Dominicana, cheia de mulheres.

PLAYBOY> Rolava sacanagem?
TUTINHA> Nessa não rolou. Mas às vezes contratavam putas para os radialistas. Já tive propostas desse tipo, mas não aceitei. Não gostava disso. Gostava de primeira classe, hotel campeão, o bem-bom. Já vi tantos shows que hoje não agüento mais ver um. E depois eu tive uma empresa de shows, aproveitando que eu tinha a rádio.

PLAYBOY> Quais artistas a Jovem Pan estourou?
TUTINHA> Tudo. Qualquer coisa que você pensar foi a Jovem Pan que lançou. Madonna, Lulu Santos, Titãs. A Jovem Pan fez a história da FM. Se não tocar na Jovem Pan, tá frito. A Jovem Pan tem o poder de formadora de opinião no Brasil inteiro. É uma referência para as rádios do interior.

PLAYBOY> Lançou as bandas de sucesso da década de 80, como Kid Abelha, Capital Inicial, Ira!?
TUTINHA> O Ira! não. Um ou outro não lançamos. Eu dei uma pisada grande na bola com a Blitz. Quando ouvi a música, falei: "Não vou tocar essa porcaria nem morto". E logo depois era a música mais tocada no Brasil inteiro. Mas em compensação eu acertei os Mamonas Assassinas, que ninguém tocava. Não dá pra acertar sempre. Eu também me ferrei com o Renato Russo.

PLAYBOY> Por quê?
TUTINHA> Numa época a gente fazia o artista cantar "Jovem Pan" no meio da melodia. Então vinha o Caetano Veloso, tinha uma música nova, e cantava "Jovem Pan" no ritmo da música. E uma vez veio o Renato Russo e disse: "Minha música é uma obra-prima e eu não vou falar 'Jovem Pan'". Eu falei: "É mesmo? Então vai pro inferno, vai tocar essa música lá na Transamérica". Eu quase bati nele.

PLAYBOY> E não tocou mesmo?
TUTINHA> Tive que tocar, a música foi um sucesso. E depois eu fiz um show do Legião Urbana no estádio do Palmeiras, em São Paulo. Ganhei tanto dinheiro que saí com a caixa igual à da Igreja Universal, cheia de dinheiro. Outro com quem eu fui malcriado foi com o Zé Ramalho. Ele disse que não ia cantar "Jovem Pan" e eu mandei ele pro inferno. Ele perguntou: "Quem é esse moleque?". Disseram que eu era o dono. Ele veio com um "não, peraí". E eu disse: "Peraí não, some daqui".

PLAYBOY> Com quem mais você brigou?
TUTINHA> Com o Roger, do Ultraje a Rigor. A Jovem Pan foi a primeira a tocar aquela música deles, "quem quer dinheiro, índio quer dinheiro", uma coisa assim. E eu combinei com o empresário de me dar três shows. Muito bem, você quer tocar o Roger? Eu quero três shows de graça e vou fazer promoção para a Jovem Pan. Pois ele estourou e não me deu os shows.

PLAYBOY> O que você fez?
TUTINHA> Parei de tocar. Aí o Roger foi pro Rock in Rio e cantava: "Tutinha, filho-da-puta, Tutinha, jabazeiro". No Maracanãzinho, no meio do show! Aí eu o processei, fomos para o tribunal e ele me pediu desculpas, falou que não teve a intenção. Mas eu nunca mais toquei. Só agora, 20 anos depois, depois que o Ultraje a Rigor praticamente acabou, fiquei com pena e deixei ele tocar.

PLAYBOY> Você tinha um contrato com o empresário do Ultraje?
TUTINHA> Como eu sabia que o artista precisava tocar na Jovem Pan, não fazia contrato. Era uma coisa de boca. Eu vou tocar o seu artista, você me dá o show e tchau. É assim com o Haroldo, empresário do Capital Inicial. Eu toco, quando eu preciso ele me ajuda, quando ele precisa eu dou comercial de graça, se eu preciso de um show, ele me dá. Mas também não fico abusando, não vou pedir dez shows. Hoje a gente tem um relacionamento ótimo com os empresários. Olha, você vai me dar um show da Pitty para um evento da carteirinha de estudante Jovem Pan e eu ajudo na música nova. É assim. Beleza, nada em contrato, tudo na boca.

PLAYBOY> Além da Blitz, que outro erro de avaliação você cometeu?
TUTINHA> A Shakira. Existe uma dificuldade para se tocar música em espanhol no Brasil. Não temos essa tradição. Aí a gravadora falou assim: "Te dou 1 dólar por disco se você tocar a Shakira". Eu falei: "Não vou tocar essa porra". Peguei o disco e joguei em casa. Depois de uma semana eu voltei e ouvi minha filha assim, cantando: "Estoy aquí, queriéndote". Voltei na gravadora e falei: "Aceito o acordo".

PLAYBOY> Deu certo?
TUTINHA> A Shakira vendeu 1 milhão de discos e fizemos 70 shows lotados. Mas ela não era nada. Eu dei um jantar na minha casa para a Shakira e ninguém queria ir. Convidei o Rogério Fasano, o Luciano Huck, ninguém queria ir.

PLAYBOY> E com a Pitty, qual foi a história?A Jovem Pan não quis tocar...
TUTINHA> Porque a gravadora não quis fazer negócio. E com uma música nova a gente tenta fazer algum tipo de promoção, pegar prêmio, pegar coisa para o ouvinte. Eles disseram não e a gente não tocava. Mas ela estourou tanto que tivemos que tocar. Tem horas que a gente tem que dar o braço a torcer. Também não sou birrento. Não vou atrapalhar a Jovem Pan por vaidade.

PLAYBOY> A internet diminuiu o poder das rádios?
TUTINHA> Nada é mais forte do que a rádio para música. Nem a Globo. Só rádio faz a música estourar. Você não vê o Fama? O cara vai lá, uma puta audiência, e cadê aqueles caras?

PLAYBOY> Cadê?
TUTINHA> Não emplacam porque para isso eles têm que fazer acordo pra tocar na Jovem Pan. Não fazem, não estouram. Nunca me procuraram, nunca estouraram. Por exemplo, o Rouge. Fez acordo para a Jovem Pan aparecer no programa deles do SBT. Era um acordo comercial que não envolvia grana, mas aparições na televisão, mostrar a rádio, coisas assim. E o Rouge explodiu. Depois não foi feito acordo com o Broz e o Broz não deu em nada. Além da rádio, só a novela influencia. MTV é zero.

PLAYBOY> Quem são os músicos que você admira?
TUTINHA> Eu gosto de música brasileira. Bossa nova, João Gilberto. Do Tom Jobim eu gosto pra cacete.

PLAYBOY> E da moçada nova?
TUTINHA> A música brasileira de hoje é um lixo. É uma música que não vai fazer história. Que história vai fazer o CPM 22, me fala? O Charlie Brown?

PLAYBOY> Por que não?
TUTINHA> Porque é uma música temporal, que combina com a idade do moleque. A letra não é forte, não tem sentimento. "Ah, vou fumar maconha, vou rasgar a calça, vou comer a mina, vou cuspir na cara, vou dar o cu na esquina". É isso aí, com raras exceções, como o Rappa e o Marcelo D2. Mas a maioria das músicas é feita por produtoras com o objetivo de vender discos. Eu acho lamentável, mas tenho culpa nisso porque não dou oportunidade para novos gêneros.

PLAYBOY> E quem vai fazer história?
TUTINHA> Deixa eu pensar. Gostei do primeiro disco da Maria Rita, mas o segundo é um lixo. Pra ser sincero, eu acho esse segundo disco da Maria Rita uma bomba. Também ela é meio boba. O que tem de melhor é a mãe e devia regravar algumas coisas da Elis. O artista demora pra sacar que se ele não tem uma música boa ele não estoura. Começa a achar que é bom e grava qualquer coisa. A Maria Rita fez um disco de merda e não vai vender.

PLAYBOY> Na época do boom do axé, como era a relação da Jovem Pan com as bandas baianas?
TUTINHA> A Jovem Pan tocou axé e a Bahia inteira desceu aqui pra tocar.

PLAYBOY> Tocou É o Tchan?
TUTINHA> Não, mas tocamos Netinho, Ivete, Banda Eva e Banda Mel. Depois a gente achou que a rádio caiu e podia ser o axé. É que essa rádio é conceito, sabe? Por exemplo, a molecada gosta de samba. Mas a gente acha que conceitualmente tocar Inimigos da HP, por exemplo, atrapalha a rádio. Então a gente prefere tocar rock, house e música brasileira e não arriscar a audiência.

PLAYBOY> Mesmo que os acordos comerciais sejam ótimos?
TUTINHA> Não tem acordo pra coisa que a gente não gosta. Pode vir aqui, mandar 200 mil dólares pra tocar e a gente não toca, não adianta.

PLAYBOY> Você tem muitos inimigos?
TUTINHA> Não que eu saiba. Deve ter muita gente com inveja de mim.

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